“Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Hb 2:18)
Apesar de não falarmos muito sobre a tentação, ela é uma realidade experimentada constantemente em nossas vidas. Mesmo conhecendo a Jesus como Senhor e Salvador, ainda encontramos dentro de nós uma limitação para o pecado. Para o verdadeiro cristão, nada é mais triste do que perceber que estamos divididos em nosso interior, que ruge dentro de nossa mente uma guerra espiritual e que a vontade de Cristo e a vontade da carne entram em conflito constante. Mais triste ainda é reconhecermos que nem sempre a vontade de Cristo prevalece. Convivemos com a dor da culpa, a vergonha de entristecer o Espírito, a frustação de não vivermos em constante vitória sobre o pecado. Tal sentimento pode ser avassalador, minando nossa confiança em Deus, comprometendo nosso ministério de servir aos outros, fechando nossos lábios nos louvores a Deus. O que podemos fazer?
Devemos admitir humildemente que as forças para vencer a tentação não estão em nós.
Quanto mais confiarmos em nosso poder de decisão, nossa habilidade de lidar com as circunstâncias, nossa suposta espiritualidade, estaremos fadados ao fracasso. Quando confiamos em nós mesmos, ficamos expostos a dois perigos: orgulho e desespero. Quando achamos que estamos alcançando a obediência que Deus requer de nós, ficamos insensíveis para a profundidade e sutileza do pecado dentro de nós. Nossa autoimagem é enganosamente positiva e nos parabenizamos pelo sucesso obtido. Não percebemos que o orgulho produz uma falsa piedade, obras superficiais, fé humana, justiça própria e religiosidade. Tudo isso é pecado diante de Deus. Por outro lado, quando percebemos que não conseguimos vencer as tentações, vez após vez, ficamos frustrados e pensamos que não há mais esperança para nós. Chegamos a duvidar de nossa própria salvação. Admitamos nossa fragilidade, reconheçamos nossa incapacidade, sejamos verdadeiros conosco mesmo. Então teremos dado um passo significativo para vencer as tentações.
O reconhecimento, contudo, não é suficiente. Precisamos crer em Cristo como nosso socorro
Ele sabe o que é a tentação. Ele assumiu sobre si uma natureza humana. Experimentou a força da tentação nos mais diversos aspectos da vida. Ele, apesar de nunca ter pecado, sofreu a agonia de ter sido tentado pelo diabo no deserto, no Getsêmani, na via crucis, na cruz. A cada momento, seu amor próprio o tentava persuadir que haveria uma outra saída, que não fosso a cruz. Quem está conosco é aquele que conhece nossa aflição. Ele não se aproxima de nós com espírito legalista e condenatório, mas como alguém que passou por tudo, alguém que sabe o que passamos. Ele não somente se identifica conosco. Ele também tem todo poder nos céus e na terra e nos socorre quando somos tentados. Não fique desanimado por ser tantas vezes tentado a desobedecer a Deus. O Senhor prometeu que estaria conosco todos os dias de nossas vidas. Ele está pronto para nos ajudar. Olhe para Cristo, não para as ondas. E, quando menos perceber a graça de Cristo terá capacitado você a atravessar o vale das tentações.
Quando reconhecemos nossa incapacidade e cremos em Cristo, como socorro bem presente na tentação, estamos prontos para ajudar outros que são tentados
Muitos cristãos lutam contra o pecado na solidão. Eles não conseguem compartilhar sobre suas tentações porque temem o desprezo e o julgamento dos outros. Infelizmente, muitos cultivam uma justiça própria que os leva a julgar os outros, mas os impede de ver sua própria pecaminosidade. Contudo o Senhor Jesus quer encontrar em nós o mesmo sentimento que existe no seu coração. Ele quer que estejamos prontos a ajudar aqueles que passam por tentações, compartilhando a realidade de nossa própria experiência de tentações e dando testemunho do poder de Cristo em nós. Não precisamos de pessoas que nos empurrem para o abismo e, sim, irmãos em Cristo que estejam prontos a estender a mão para nos afastar da queda.
Tentações fazem parte da vida enquanto nosso interior não for completamente transformado, enquanto houver um sistema de pessoas que não amam a Deus, enquanto o diabo não for definitivamente derrotado. Mas não estamos sozinhos. Jesus é poderoso para nos socorrer.